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A Importância da Metodologia e da Tecnologia nas Investigações Criminais

Vivemos em uma era em que o rastro informacional de cada indivíduo é imenso, complexo e, ao mesmo tempo, extremamente valioso para o campo da persecução penal. Estima-se que uma única pessoa gere cerca de 150 GB de dados diariamente, dispersos entre dispositivos pessoais, armazenamento em nuvem, redes sociais, transações financeiras, registros de provedores de aplicação, entre outros.

Nesse contexto, o êxito de uma investigação criminal moderna repousa fundamentalmente sobre dois pilares: metodologia investigativa robusta e tecnologia especializada e interoperável.

O Desafio da Complexidade Digital

Não é mais viável enfrentar a criminalidade contemporânea utilizando apenas os instrumentos do passado. A atual conjuntura exige ir além da simples coleta de dados — é necessário estruturar, correlacionar e transformar informação bruta em inteligência operacional e estratégica, com velocidade e acurácia.

Diante da volumetria, heterogeneidade e volatilidade dos dados, o método de trabalho estruturado torna-se imprescindível, assim como o suporte de tecnologias capazes de lidar com o fenômeno do Big Data Investigativo.
É exatamente nesse cenário que se insere o AIM – Agile Investigation Model.

AIM: Uma Resposta Moderna à Complexidade das Investigações

O AIM (Agile Investigation Model) não é apenas uma sequência de etapas: é uma verdadeira arquitetura de inteligência pensada para a dinâmica do crime atual. Inspirado em abordagens iterativas e flexíveis, o modelo rompe com fluxogramas rígidos e propõe uma metodologia de investigação hipotético-dedutiva contínua: observação, formulação de hipóteses, testagem e reavaliação constante.

O AIM foi concebido para ambientes de dados massivos, dispersos, multiformatos e muitas vezes não estruturados. Além disso, fomenta a atuação integrada e multidisciplinar — premissa essencial nas investigações modernas, que demandam especialistas em inteligência cibernética, análise de sinais, finanças ilícitas, entre outros.

O modelo também incentiva o uso intensivo de ferramentas de inteligência artificial, mineração de dados (data mining), análise gráfica de vínculos, e automatização de fluxos de informação.

Antecedentes Metodológicos

Antes do AIM, diversas metodologias influenciaram e ainda norteiam práticas investigativas:

5W1H: Adaptado para a atividade investigativa, oferece uma matriz objetiva para a coleta inicial de dados essenciais (Quem? O quê? Quando? Onde? Por quê? Como?).
Método M.U.M.A.: Tradicional em homicídios, sistematiza a investigação nas fases de Mecânica, Últimos Passos, Motivação e Autoria, podendo ser expandido para outros crimes.
Método do Rastejamento (Luiz Ribeiro): Enfatiza o encadeamento lógico das fases de observação, hipótese, coleta e comprovação, especialmente útil em crimes financeiros e cibernéticos.
Método dos Círculos Concêntricos (Dorea): Estrutura o levantamento de vínculos da vítima, partindo de núcleos íntimos para círculos sociais mais amplos.
Método da Detonação: Aplica medidas excepcionais, como interceptações e buscas, mediante autorização judicial, quando a investigação tradicional encontra impasses.

As Fases do AIM

O AIM se organiza em seis fases operacionais, interdependentes e iterativas:
1. Planejamento Estratégico
Consolidação e pré-análise dos dados disponíveis (levantamento de ambiente informacional), definição dos objetivos específicos da missão investigativa e estruturação inicial das hipóteses.
2. Coleta e Governança de Dados
Execução de coletas direcionadas, com rigorosa observância da cadeia de custódia e rastreabilidade, assegurando que cada bit de dado seja juridicamente validável.
3. Processamento Tecnológico
Normalização, integração e enriquecimento de dados provenientes de fontes diversas, habilitando análises transversais e interoperabilidade entre plataformas.
4. Análise Profunda e Iterativa
Emprego de modelagens analíticas e criminológicas para identificação de padrões, desvios de comportamento e correlações de interesse, sempre em ciclos de retroalimentação.
5. Adaptação Contínua
Revisão tática dos rumos da investigação frente a novos achados ou mutações do ambiente operacional, mantendo o princípio da flexibilidade estratégica.
6. Conclusão e Formalização
Consolidação das provas e confecção de relatórios técnico-investigativos e análises de inteligência, lastreados em metodologia científica e aptos à persecução penal.

Benefícios Estratégicos do AIM

– Organização sistêmica da investigação, com fluxos claros e auditáveis.
– Alta adaptabilidade operacional frente a novas informações.
– Governança efetiva sobre a cadeia de evidências digitais.
– Resultados intermediários, possibilitando ações rápidas em fases preliminares.
– Maximização da eficiência investigativa através do ciclo de iteração e adaptação.

Integração AIM e Tecnologia SNAP: A Nova Era da Investigação Digital

Para que o AIM atinja sua máxima eficácia, é essencial o suporte de tecnologias compatíveis com suas premissas. Nesse sentido, o ecossistema SNAP surge como resposta nacional, moderna e estrategicamente alinhada.

As soluções SNAP foram desenhadas sob medida para a realidade da persecução penal brasileira, integrando fontes abertas e fechadas, com interoperabilidade com sistemas existentes, respeito às normativas de segurança e privacidade de dados, e capacidade plena de atuar em ambientes de alta volumetria de informações.

Tecnologias SNAP

Bases de Dados Nacionais: dados estruturados oriundos de fontes públicas e privadas brasileiras, como registros empresariais, bases eleitorais, processos judiciais, veículos, telefones, pessoas físicas e jurídicas, entre outros.
Fontes Abertas e Redes Sociais: dados não estruturados extraídos de ambientes públicos da internet e redes sociais, respeitando limites legais e éticos de coleta de inteligência de fontes abertas (OSINT).

Grafos Dinâmicos de Vínculos: Visualização e exploração de relações ocultas e conexões indiretas, acelerando a descoberta de núcleos criminosos.
Reconhecimento Facial em Redes Sociais: Localização de indivíduos mesmo com dados limitados, apoiando buscas iniciais e diligências de campo.
Análise de Sentimentos e Tendências: Identificação de sinais de radicalização, ameaças veladas e perfis de risco em redes públicas.

Reconhecimento Visual de Conteúdo Sensível: Detecção automática de armas, entorpecentes, veículos e outros elementos críticos em imagens e vídeos.
Extração Automática de Entidades Nomeadas (NER): Organização sistemática de dados textuais, estruturando investigações por pessoas, organizações, locais e eventos.

Geração Automática de Linhas do Tempo: Reconstrução precisa de eventos com base em dados coletados, fundamental para a narrativa probatória.

Quando Metodologia e Tecnologia Convergem
A metodologia sem tecnologia é lenta.
A tecnologia sem metodologia é desorientada.

O verdadeiro diferencial investigativo nasce da fusão estratégica entre ambos. O AIM provê o mapa operativo; o SNAP, os sensores, ferramentas e aceleradores para percorrê-lo com inteligência, precisão e velocidade.
Num ambiente criminal em constante mutação e em um ciberespaço cada vez mais denso, a combinação entre modelo metodológico ágil e ecossistema tecnológico adaptativo é o que transforma diligência investigativa em inteligência proativa.

A boa notícia?
O Brasil já dispõe dessa estrutura. E quem domina a metodologia e a tecnologia, domina também o futuro da investigação criminal.